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No arranque da sua primeira temporada à frente da companhia, Paulo Ribeiro aposta numa relação mais prolongada com os coreógrafos e numa companhia de “todas as danças”, menos institucional.
Esboçar a sua primeira programação para a Companhia Nacional de Bailado (CNB) foi mais difícil do que esperava?
Com a antecedência com que pude começar a trabalhar já previa uma dificuldade grande. Normalmente precisamos de dois anos de antecedência para conseguir ter os coreógrafos que a companhia merece. A CNB tem de trabalhar com os melhores coreógrafos portugueses e europeus – não há dúvida. Só assim pode ser realmente uma grande companhia. Já o é pelos seus intérpretes, mas tem de ter desafios à altura. Depois há também os constrangimentos financeiros do costume, mas essa era uma dificuldade expectável, a que se junta um modus operandi orçamental muito complexo. Este foi um ano muito intenso, porque a programação já tinha sido definida pela Luísa Taveira até final de 2017, tivemos uma tournée alucinante durante todo o ano, eu tinha um pendente com a minha companhia e vou agora começar a programar 2019, sem saber ainda com que orçamento, o que torna o exercício complicado, porque temos de avançar com ideias para coreógrafos de renome.
Uma das linhas mestras que quer implementar é um trabalho da memória, em que os coreógrafos convidados possam não apenas criar para a CNB mas também recuperar peças emblemáticas do seu percurso. É a isso que assistiremos com Tânia Carvalho e Ambra Senatore?
Sim, o ciclo da Tânia é o nosso primeiro passo, ainda por cima importante, porque temos duas reposições [Olhos Caídos e A Tecedura do Caos] e uma criação. A Tânia aparece numa programação mais ampla por uma coincidência feliz, porque também o Maria Matos e o São Luiz pensaram em programá-la. Connosco vai fazer três peças em dois meses. Depois seguiremos com a Ambra Senatore no mesmo sentido, e essa era também a ideia com a Sasha Waltz, só que ela não estava com tempo e portanto vamos fazer agora uma remontagem [Impromptus] e em 2019 ela fará uma criação. Desafio sempre o criador a escolher a peça-charneira do seu percurso, aquela a partir da qual tudo mudou, e a partir daí conversamos e chegamos a um consenso. Parece-me interessante porque estão a transmitir algo que lhes é vital. Depois disso, no final de 2018, haverá ainda uma criação minha co-produzida pelo Théâtre National de Chaillot – uma co-produção desta envergadura é algo inédito na CNB –, e um clássico de Natal ainda por definir.
Na apresentação do programa fala de uma intenção de levar a CNB para o centro de Lisboa. Em que moldes?
Falo de levar a CNB para o centro de Lisboa e para vários outros centros. É muito importante a companhia ter peças de vários formatos – pequenos, médios, grandes – e que se possa subdividir em vários projectos, de modo a estar presente tanto em espaços alternativos como nos mais institucionais. Quando falo no centro de Lisboa, faço-o porque neste momento estabelecemos parcerias com o Teatro da Trindade e com o Teatro do Bairro, e temos uma abertura muito grande por parte do São Luiz. Mas também temos uma parceria com Almada e quero fazer o mesmo com teatros pelo país fora. Esta companhia tem de ser um leque enorme de possibilidades, de peças, de reportório, de formatos, ir de coisas mais simples a outras mais sofisticadas. Como gosto de dizer, é uma companhia de várias danças – ou, preferencialmente, de todas as danças.
Sente que há um lado excessivamente institucional na CNB?
Completamente. Acho que há um lado excessivamente institucional e que conhecemos pouco a companhia. A tournée que aconteceu este ano aproximou muito a companhia do país profundo e foi uma descentralização muitíssimo interessante. Estes intérpretes merecem ser mais vistos, ter mais destaque. A CNB é incrível porque o tem sido; apesar de tudo, vemo-la pouco, sentimo-la pouco, faz pouco parte do nosso quotidiano. E há tanto obras do reportório como intérpretes, que ainda por cima se dedicam à companhia há muitos anos, que devem ser mais acarinhados, devem ser mais incontornáveis no país. O conhecimento que as pessoas têm da CNB tem de ser mais claro, as pessoas têm de tropeçar nela.
Por Gonçalo Frota, no ípsilon, jornal PÚBLICO
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